PRIVILÉGIO X DIREITO
Você, branco da classe média, é privilegiado?
Você entra em uma loja e não é seguido pelo segurança? Pode estudar? Tem acesso a todas as refeições? Você tem acesso à saúde? Você consegue andar nas ruas sem ter medo de balas perdidas? Tem onde dormir?
Não, você não é privilegiado, você só tem seus direitos mínimos satisfeitos.
Não se deve confundir privilégios com direitos básicos.
Privilégios
e Direitos são coisas diferentes. Privilégios devem ser combatidos, direitos
devem ser ampliados.
O termo
privilégio tem sido usado com muita frequência, mas nem sempre de maneira
honesta e produtiva.
A palavra
privilégio vem do latim “privilegium”.
Nela se identifica a raiz privus (privado)
e lex (lei), ou seja, consiste, basicamente,
no entendimento da existência de leis privadas exclusivas para um pequeno
grupo. Leis que só podem existir em detrimento da maioria.
A ideia de
privilégio é de que para que um pequeno grupo possa desfrutar de determinados benefícios,
é necessário que a grande maioria seja prejudicada. Portanto, privilégio é para
ser destruído, denunciado e não ampliado.
Uma pessoa
de classe média, portanto, não é privilegiada.
Já um
bilionário é. O tipo de vida que ele leva é conduzido pela exclusão da maioria
da sociedade. E é como diz o ditado: “quando você se acostuma com privilégios,
igualdade soa como opressão”. Por isso, os bilionários não têm interesse em uma
sociedade justa e igualitária e lutam para manter seus próprios privilégios em
detrimento de direitos básicos dos outros.
Se o termo “privilégio”
é banalizado, aqueles que são os verdadeiros privilegiados, passam a ser apenas
mais um entre tantos. A palavra se esvazia e não temos como diferenciar aqueles
que são menos oprimidos e possuem relativa vantagem social – como uma pessoa de
classe média – daqueles que realmente possuem privilégios desmedidos em relação
aos demais – como o 1% de bilionários do mundo. Assim, a real causa da existência
desses privilégios e as consequências dele, ficam mais difíceis de serem
distinguidas e colocam aquele que tem relativa vantagem ao lado daquele que
efetivamente tem privilégios, em patamares iguais – quando isso de longe não é
a realidade.
No Brasil a
desigualdade é tão grande, que alguns indivíduos com qualidade de vida
levemente melhor já são tidos como privilegiados. Os acessos a estas vantagens
só existem porque vivemos em uma sociedade desigual, em que uns são mais excluídos
do que outros. Contudo, direitos que deveriam ser universais não podem ser
jamais vistos como privilégios.
Temos que
garantir o básico. Não é sobre expandir privilégios para todo mundo, é sobre
expandir direitos para que essas coisas básicas não sejam vistas como luxo ou
exclusivas na sociedade.
E o que um
indivíduo com vantagens sociais pode fazer perante isso? O ideal seria reconhecer
suas vantagens – e não ficar se igualando àqueles que são realmente
privilegiados ou se culpando por ter essas vantagens – e, a partir daí,
descobrir como usá-las para promover a luta por direitos.
Temos que ficar atentos ao esvaziamento da palavra privilégio. Se uma pessoa anda numa loja sem ser perseguida é um privilégio ou um direito que queremos que seja estendido para todas as pessoas? Se alguém tem acesso à educação isso seria um privilégio ou um direito básico atendido e que deveria ser viabilizado para todos? Se o indivíduo tem seus direitos alimentares atendidos, isso é um privilégio? Se a pessoa tem acesso à saúde básica enquanto outras não tem, isso é um privilégio ou um direito que deveria ser efetivamente universal? Uma pessoa sair de casa sem o medo de ser morta é um privilégio ou um direito que queremos garantir para todos? Se alguém tem um lugar para dormir isso é um privilégio ou uma necessidade básica sendo atendida?
25/09/2021