sábado, 25 de setembro de 2021

PRIVILÉGIO X DIREITO

Você, branco da classe média, é privilegiado?

Você entra em uma loja e não é seguido pelo segurança? Pode estudar? Tem acesso a todas as refeições? Você tem acesso à saúde? Você consegue andar nas ruas sem ter medo de balas perdidas? Tem onde dormir?

Não, você não é privilegiado, você só tem seus direitos mínimos satisfeitos.

Não se deve confundir privilégios com direitos básicos.

Privilégios e Direitos são coisas diferentes. Privilégios devem ser combatidos, direitos devem ser ampliados.

O termo privilégio tem sido usado com muita frequência, mas nem sempre de maneira honesta e produtiva.

A palavra privilégio vem do latim “privilegium”. Nela se identifica a raiz privus (privado) e lex (lei), ou seja, consiste, basicamente, no entendimento da existência de leis privadas exclusivas para um pequeno grupo. Leis que só podem existir em detrimento da maioria.

A ideia de privilégio é de que para que um pequeno grupo possa desfrutar de determinados benefícios, é necessário que a grande maioria seja prejudicada. Portanto, privilégio é para ser destruído, denunciado e não ampliado.

Uma pessoa de classe média, portanto, não é privilegiada.

Já um bilionário é. O tipo de vida que ele leva é conduzido pela exclusão da maioria da sociedade. E é como diz o ditado: “quando você se acostuma com privilégios, igualdade soa como opressão”. Por isso, os bilionários não têm interesse em uma sociedade justa e igualitária e lutam para manter seus próprios privilégios em detrimento de direitos básicos dos outros.

Se o termo “privilégio” é banalizado, aqueles que são os verdadeiros privilegiados, passam a ser apenas mais um entre tantos. A palavra se esvazia e não temos como diferenciar aqueles que são menos oprimidos e possuem relativa vantagem social – como uma pessoa de classe média – daqueles que realmente possuem privilégios desmedidos em relação aos demais – como o 1% de bilionários do mundo. Assim, a real causa da existência desses privilégios e as consequências dele, ficam mais difíceis de serem distinguidas e colocam aquele que tem relativa vantagem ao lado daquele que efetivamente tem privilégios, em patamares iguais – quando isso de longe não é a realidade.

No Brasil a desigualdade é tão grande, que alguns indivíduos com qualidade de vida levemente melhor já são tidos como privilegiados. Os acessos a estas vantagens só existem porque vivemos em uma sociedade desigual, em que uns são mais excluídos do que outros. Contudo, direitos que deveriam ser universais não podem ser jamais vistos como privilégios.

Temos que garantir o básico. Não é sobre expandir privilégios para todo mundo, é sobre expandir direitos para que essas coisas básicas não sejam vistas como luxo ou exclusivas na sociedade.

E o que um indivíduo com vantagens sociais pode fazer perante isso? O ideal seria reconhecer suas vantagens – e não ficar se igualando àqueles que são realmente privilegiados ou se culpando por ter essas vantagens – e, a partir daí, descobrir como usá-las para promover a luta por direitos.

Temos que ficar atentos ao esvaziamento da palavra privilégio. Se uma pessoa anda numa loja sem ser perseguida é um privilégio ou um direito que queremos que seja estendido para todas as pessoas? Se alguém tem acesso à educação isso seria um privilégio ou um direito básico atendido e que deveria ser viabilizado para todos? Se o indivíduo tem seus direitos alimentares atendidos, isso é um privilégio? Se a pessoa tem acesso à saúde básica enquanto outras não tem, isso é um privilégio ou um direito que deveria ser efetivamente universal? Uma pessoa sair de casa sem o medo de ser morta é um privilégio ou um direito que queremos garantir para todos? Se alguém tem um lugar para dormir isso é um privilégio ou uma necessidade básica sendo atendida?

25/09/2021